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Prefeito diz que volta a controlar o Rio. Mas é o povo que retoma o poder

Leonardo Sakamoto

08/03/2014 21h28

A resistência dos garis no Rio de Janeiro levou à prefeitura, neste sábado (8), a ceder para por fim à greve que durou oito dias.

Com isso, o piso passou de R$ 804,00 para R$ 1100,00 mensais, um aumento de cerca de 37%, mais adicional de insalubridade de 40%. O tíquete-alimentação passou de R$ 12,00 para R$ 20,00 (66% de aumento), além de outros direitos. Além disso, as 300 demissões declaradas anteriormente pela prefeitura como punição serão revistas.

Se dependesse do sindicato da categoria, que foi ignorado após fechar um reajuste com a prefeitura, o aumento teria sido de 9%.

O prefeito Eduardo Paes disse, em entrevista coletiva, que se sentiu como "um capitão que retomou o controle da nau". Antes, ele havia chamado o movimento de "motim".

Sinto informar ao prefeito que, em verdade, esse desfecho coroa uma ação de trabalhadores, mostrando que é viável lutar por seus direitos, praticamente sem a ajuda de outras instituições e com um empregador poderoso usando todos os instrumentos para impedir que isso acontecesse.

Ou seja, quem retomou o controle da nau – mesmo que por um breve momento – foi o povo. Que, conforme o primeiro artigo da Constituição da República Federativa do Brasil, é de onde todo o poder emana.

Espero que outras categorias historicamente menos organizadas aprendam com a vitória dos garis cariocas.

Jornalistas, por exemplo, que só se lembram que são trabalhadores quando são demitidos. Às vezes, nem isso.

Talvez, quando crescermos, nós jornalistas possamos ser como os garis.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto