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Nos 126 anos da Lei Áurea, jogo digital sobre nova escravidão é lançado

Leonardo Sakamoto

13/05/2014 08h19

A Lei Áurea completa 126 anos nesta terça (13). Mas como a exploração do ser humano não comemora efemérides, formas contemporâneas de escravidão continuam a roubar a dignidade de milhares de trabalhadores brasileiros e estrangeiros não só no Brasil, mas em todo o mundo.

Conhecer bem problema é fundamental e evitar confusões para que possamos combatê-lo e preveni-lo. Por isso, a Repórter Brasil, organização da qual faço parte, está lançando o primeiro jogo digital que aborda o trabalho escravo contemporâneo em meio rural e urbano.

Você pode estar se perguntando: "Jogo digital? Mas trabalho escravo não é coisa séria?" Pô, se é. Por isso mesmo precisa de uma nova abordagem para prender a atenção dos mais jovens e construir esse conhecimento com eles. Ou vocês acham que todo mundo vai entender a importância de um tema simplesmente porque nós o consideramos relevante? Conquistar a atenção do outro é fundamental. Fornecer instrumentos para professores e educadores também.

A dinâmica do game permite que o jogador seja responsável por conduzir um trabalhador, que deixa sua cidade natal em busca de melhores condições de vida e acaba sendo explorado. O jogador terá que fazer escolhas para que consiga escapar dessa situação.

A experiência estimula a sensibilização em relação aos abusos sofridos por trabalhadores na vida real. "Aplicamos conceitos e técnicas de desenvolvimento para provocar o que chamamos de 'aprendizado oculto' (stealth learning): o jogador não percebe que está aprendendo, mas termina a experiência com outro nível de consciência sobre o assunto", explica Paulo Luis Santos, CEO da Flux, empresa responsável pelo desenvolvimento do trabalho.

"O problema costuma ser visto como algo distante das pessoas, que acontece somente em lugares remotos, mas ele está presente em todos os estados brasileiros, inclusive em grandes centros urbanos", afirma Natália Suzuki, coordenadora do programa educacional da Repórter Brasil. O que envolve produtos como alimentos, equipamentos eletrônicos, roupas e até mesmo construção de prédios e residências.

A Organização Internacional do Trabalho estima em cerca de 21 milhões os atingidos pela prática globalmente. No Brasil, não há uma estimativa precisa (dependendo da fonte, os "chutes" variam entre 25 a 400 mil ou mais), mas o fato é que mais de 46 mil pessoas foram libertadas pelo governo federal desde 1995.

A versão em inglês do jogo será disponibilizada no início de junho. A iniciativa conta com o apoio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Clique aqui e baixe no seu computador para jogar (clique no link indicado e selecione a opção para manter o download e, depois na pasta "Escravo, nem pensar!" e, por fim, no arquivo – ignore avisos a respeito de vírus).

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto