A culpa do granizo em São Paulo é dos malditos esquerdistas
Leonardo Sakamoto
19/05/2014 11h44
Enquanto isso, voltando da padaria com 200 gramas de mortadela…
– Ei, escuta, você não é aquele esquerdista?
– Olha, depende. Tem tanta gente ruim nesse mundo…
– Aquele que escreve na Folha. O caviar?
– Hehehe. Acho que sei de quem você é leitor… Se não fosse o pobre ganso, preferiria ser chamado de esquerda foie gras. Com torrada é mó bom… Mas será que não é no UOL?
– Enfim, como é que você me explica a neve que caiu ontem na Zona Sul, hein?
– O granizo? Olha, escrevo sobre direitos humanos, desenvolvimento sustentável, essas coisas malas. Meteorologia não é muito a minha praia.
– Ué, mas não é você que defende que o planeta está esquentando? Como justifica o gelo?
– Muito uísque caubói?
– Como?
– Desculpe, é que seu raciocínio foi muito profundo, não acompanhei.
– Se o planeta está esquentando, por que caiu gelo?
– Li que foi frente fria, combinada com o ar frio da atmosfera ou algo do gênero.
– Tá vendo! Está inventando porque seu argumento furou. É sempre assim com petralhas. O planeta não está esquentando. Tudo está como sempre foi. Isso é mentira para botar medo na população e reeleger sua candidata.
– Como?
– Medo para eleger sua candidata.
– Isso é pegadinha, né? Nas mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global, temos nevascas, desertificação. E nem todo o granizo é decorrência de aquecimento global.
– Cascata.
– Na verdade, você tem razão. Acho que é sinal da volta do Messias.
– Você se acha gostosão para não levar essa conversa a sério, né? Arrogante.
– Gostosa é a mortadela.
Sobre o Autor
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.