Megaeventos esportivos violam direitos humanos, aponta estudo
Leonardo Sakamoto
12/06/2014 14h00
Os Jogos Olímpicos de Atenas (2004) e Pequim (2008), os Jogos da Commonwealth em Nova Déli (2010) e a Copa do Mundo do Brasil (2014) deixaram ou ainda deixarão momentos de heroísmo esportivo que devem emocionar as milhões de pessoas que os acompanham. Mas esse é apenas um dos lados da história.
Megaeventos esportivos, por seu gigantismo, também são vetores de violações de direitos humanos, envolvendo trabalhadores, migrantes, mulheres e crianças. A construção de grandes obras de infraestrutura e das arenas esportivas não é apenas fonte de emprego e renda, mas também costuma deslocar comunidades e ameaçar os mais diversos direitos. É o que se viu naqueles países e o que se passa também no Brasil.
Para levantar episódios de violação, compartilhá-los e propor recomendações a governos e empresas, sobretudos àqueles envolvidos com futuros megaeventos, a ONG britânica Institute for Human Rights and Business acaba de lançar a plataforma online www.megasportingevents.org. O trabalho ainda está disponível apenas em inglês. A Repórter Brasil produziu os estudos referentes ao Brasil que estão disponíveis no portal.
O site traz informações, por exemplo, sobre as 14 mortes de trabalhadores nas obras para as Olimpíadas de Atenas, as dez nos jogos de Pequim e as oito nas arenas construídas para o Mundial de Futebol do Brasil. Ou ainda sobre os 44 nepaleses migrantes que morreram em 2013 em obras relacionadas a projetos da Copa do Mundo do Qatar, em 2022.
No Brasil, a Repórter Brasil (organização que este missivista tem o prazer de fazer parte) aponta que Copa e Olimpíadas trazem riscos principalmente a seis grupos de direitos humanos: direito ao trabalho decente, direito das crianças e dos adolescentes, direito ao protesto, direito à moradia e direito dos migrantes.
Como mensagem geral, IHRB – que tem como fundadora Mary Robinson, primeira mulher presidente da Irlanda e ex-alta comissária da ONU para os Direitos Humanos – e Repórter Brasil acreditam que os governos que sediam megaeventos esportivos têm o dever de criar salvaguardas para evitar violações em todas as fases, da preparação do evento até o que fazer com seu legado.
Organizações esportivas, organizadores locais, patrocinadores e empresas também têm responsabilidade para com as comunidades anfitriãs e a sociedade em geral para que os maiores padrões internacionais de direitos humanos sejam respeitados.
Leia aqui a íntegra do estudo da Repórter Brasil sobre a Copa do Mundo e as Olimpíadas do Rio.
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Sobre o Autor
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.