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O taxista é reaça? Seja mais que ele

Leonardo Sakamoto

31/07/2014 08h36

O que fazer quando um taxista começa a defender barbaridades na sua frente? Preso ao banco de trás, você pode pedir para parar e descer. Discutir com ele até o destino final. Ou jogar o mesmo jogo e ver o que acontece.

Resolvi colocar em prática a sugestão de uma amiga:

– Por favor, aeroporto de Congonhas. Pode ir pela Henrique Schaumann.

– É pra já.

[Na telinha de TV do táxi] Dois menores foram apreendidos, na madrugada desta terça-feira, após uma tentativa de roubo frustrada em Moema…

– Olha só… Depois vem o pessoal dos direitos humanos e coloca tudo de volta nas ruas. Esse país não é sério. Dane-se que tem 14, 15, anos, tem que prender mesmo. Se tem idade para cometer crimes, tem idade para ir preso como se fosse de maior.

– (Silêncio meu)

– Tinha que contratar uns policiais fora do serviço para dar uma coça nessa molecada. Assim, aprendiam o que os pais não ensinaram.

– (Silêncio meu)

– Acho que tem que ter pena de morte. Vi na TV que nos Estados Unidos não tem crime porque tem pena de morte. Mata um ou dois desses com injeção e os outros vão pensar duas vezes antes de fazer porcaria.

– Olha eu concordo inteiramente com o que o senhor disse. E acho que tem que impedir essa gente pobre da periferia de ter filho. Esterilizar toda essa mulherada mesmo para que não dê à luz bandidinho de merda. Outra medida importante seria colocar uns portões nas entradas de favelas e bairros pobres e só deixar eles saírem de dia para trabalhar. E se não tiverem trabalho, não saem. Não sabe viver em sociedade, toque de recolher! E quando resolver essa questão, tem que ir para outras, botar as coisas em ordem. Vagabundo que faz barbeiragem no trânsito tem que ir preso, gente que pula a cerca em casa tem que ir preso, bêbado que fica enchendo a cara no bar e não trabalha tem que ir preso, quem sonega imposto tem que morrer! E sem essas coisas de julgamento, não. Faz e pronto, simples assim.

– O senhor é radical. Não sei se concordo com tudo isso não…

– Por que? O senhor defende vagabundo, é isso? Defende vagabundo?

– Não, mas também não é assim.

– Assim como?

– Ah, não acho certo. Tem que ver quem é a pessoa e coisa e tal. Não pode fazer isso, não. Não acho justo.

O motorista não deu um pio até o destino final. Mas, certamente, vai pensar duas vezes da próxima vez.

Recomendo. Por uma vida com menos mimimi.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto