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Comentarista de internet, renuncie à civilidade. Afinal, você é anônimo

Leonardo Sakamoto

04/08/2014 17h51

Por conta dos repetidos casos de contaminação por gases tóxicos, infecção por agentes patológicos ou enjôo causado pelo cheiro ocre que exala da caixa de comentários deste blog, muitos leitores que gostam do bom debate e da saudável troca de ideias têm reclamado muito comigo. Ameaçam, inclusive, denunciar este jornalista a organizações de direitos humanos por ocultação de um cadáver ao final de cada post.

Como a democracia não é a melhor forma de governo, mas a "menos pior" que conseguimos criar até hoje (e há uma grande diferença entre essas duas avaliações), os comentários ficam. Mas tendo em vista os desavisados que ficam doentes ao passar por lá, penso seriamente em colocar um aviso. Algo como:

Você está adentrando uma zona de conflito armado, onde a lógica e as leis da física não se aplicam e no qual as relações humanas, tal qual você as conhece, são ignoradas. A partir deste ponto, está por sua conta e risco.

Ou simplesmente:

Fuja.

Outra opção é dar um toque aos trolls. Um amigo jornalista enviou um aviso para ser colocado na área de comentários de blogs que achei fino. A menos que esteja enganado, ele surgiu no The Big Picture, de Barry Ritholtz – para dar o devido crédito. Em tradução livre:

Por favor, use os comentários para demonstrar sua própria ignorância, a falta de familiaridade com dados empíricos e a falta de respeito pelo conhecimento científico. Certifique-se de criar falácias e argumentar contra coisas que eu não disse, nem impliquei. Se você puder repetir memes previamente desacreditados ou orientar a conversa para discussões irrelevantes e que fujam do tema, isso seria apreciado. Por fim, gentilmente renuncie a toda civilidade em seu discurso. Você está, afinal de contas, anônimo.

Na verdade, quase anônimo. A ferramenta do UOL que gerencia os comentários neste blog possibilita ver o IP da pessoa que postou. E é muito legal perceber como um mesmo IP dialoga consigo, curtindo e apoiando o que foi dito por ele mesmo. Lembrete mental número 23: dizer isso ao meu analista, pois ele vai pirar.

Às vezes, esses maluquinhos com apelidos extravagantes lançam seus torpedos de grandes laboratórios de análises clínicas, às vezes de grandes redações, às vezes de locais ligados ao poder. Mas como identificação de IP feita de forma doméstica por um amador como eu não é ciência exata, mantenho as graças em privado.

Concordo com quem diz que são necessários mais estudos para entender o que se passa na cabeça de alguém que faz essas coisas estranhas. Pelo menos, as que fazem de graça.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto