Daí, você pensou em algo "genial" sobre política e quer postar já
Leonardo Sakamoto
19/08/2014 11h10
Você pensou em algo "genial" sobre política e quer postar imediatamente. Não importa se tem quatro pós-doutorados no Instituto Internacional da Coxinha Creme ou se não concluiu o ensino fundamental.
Pare. Encha bem o pulmão de ar e solte lentamente. Faça isso mais duas vezes.
Depois, pense: O que estou prestes a postar configura algum crime virtual, promove o ódio ou pode ser ocasionado por minha incapacidade de exercer as faculdades relacionadas à interpretação de texto?
Sim? Então, vá tomar um cafezinho.
Se não, pense: O que estou prestes a postar é realmente necessário e acrescenta algo ao debate?
Não? Então, vá tomar um cafezinho.
Se sim, pense: O que estou prestes a postar serve apenas para eu me sentir aquecido e amado através dos "likes" dos meus amigos?
Sim? Então vá tomar um cafezinho.
Se não, pense: O que estou prestes a postar possui um argumento baseado em fatos reais ou, ao menos, em alguma lógica?
Não? Então, vá tomar um cafezinho.
Se sim, pense: O que estou prestes a postar é machista ou regado por preconceitos por gênero, orientação sexual, cor de pele, origem social ou etnia?
Sim? Então, vá tomar um cafezinho.
Se não, pense: O que estou prestes a postar poderia ser dito de forma mais educada, sem xingamentos gratuitos, mesmo que outras pessoas estejam xingando gratuitamente no debate?
Não? Então, vá tomar um cafezinho.
Se sim, reformule a postagem em outros termos e pense: Eu teria coragem de dizer o que estou prestes a postar para um auditório lotado com 500 pessoas desconhecidas ao vivo?
Não? Então, vá tomar um cafezinho.
Se sim, poste e seja feliz.
Este post é mais um serviço da campanha "Ajude o Brasil a chegar inteiro até outubro". E o meu apoio aos produtores brasileiros de café (ao menos aqueles que não foram flagrados com trabalho escravo).
Sobre o Autor
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.