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Sim, você é homofóbico. Mas isso tem cura

Leonardo Sakamoto

27/09/2014 10h19

Diz que não é preconceituoso porque tem amigos gays.

Acha um absurdo homossexuais serem surrados, mas "entende" quando eles ou elas "extrapolam" em suas liberdades, tiram outras pessoas do sério e "exageros" acabam acontecendo.

Fica no fundo da sala de aula tirando barato da colega só porque descobriu que ela é lésbica ou ele é gay?

Envia para amigos, via redes sociais, dados mal interpretados a partir de pesquisas questionáveis de algum instituto de pesquisa de fundo de quintal, "provando" que não é possível criminalizar a homofobia?

Senta no sofá da sala e concorda com seu pai que alguma coisa precisa ser feita pois o mundo está indo para o buraco e a prova disso é um casal de "bichas" ter se beijado na saída do cinema?

Na hora de contratar alguém no escritório, prefere o hétero inexperiente do que a travesti mais do que adequada para a função?

Fica possesso por um hétero se juntar a um grupo de gays e reclamar das piadinhas estúpidas e sem sentido que você faz?

Vê seu filho brincando de boneca com a amiguinha e, imediatamente, manda ele voltar para casa e nunca mais permite que a veja de novo, pois não quer má influências na formação dele?

Acha uma aberração às leis de deus duas mulheres ou dois homens se dedicarem à criação de uma criança, mas gasta todo o seu tempo livre com amigos, terceirizando seus filhos para uma babá?

Considera que falar sobre preconceito, igualdade, tolerância e homofobia para as crianças na escola fazem com que elas "aprendam" a ser gays e lésbicas?

Fica lisonjeado quando recebe uma cantada de mulher, mas transtornado quando o gracejo vem de um homem?

Acha que igualdade de tratamento significa manutenção da desigualdade – ou seja, se houver punição para homofobia também deve haver para heterofobia?

Acredita, acima de tudo, na proteção ao modelo de família de um pai-homem e uma mãe-mulher, como solução para todos os males do mundo?

Se respondeu a "sim" a alguma delas, precisa conhecer mais gente diferente de você.

Se respondeu a "sim" a todas, precisa de ajuda médica. Urgente.

Acredite, você pode ser dodói e, talvez, nem perceba. Pois o diabo, ele sim, não está apenas nos grandes atos discriminatórios ou em genocídios, mas também nos detalhes que causam dor no cotidiano.

E fique tranquilo: O tratamento é longo e não pode ser abandonado, sob o risco de recaídas violentas, mas homofobia tem cura.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto