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Os candidatos deviam ser punidos pela violência de suas "torcidas"

Leonardo Sakamoto

17/10/2014 12h16

Ainda sob os efeitos lisérgicos de uma garrafa de Fanta Uva, dois amigos jornalistas e eu imaginamos o seguinte: estas eleições se transformaram em um grande jogo. Há torcedores que estão lá para ajudar o seu time a vencer de forma civilizada e outros que, pouco se importando se o futebol é de qualidade ou não, ou melhor, pouco se lixando se a bola está rolando ou não, querem mesmo é dar porrada no "inimigo" e mostrar que o deles é maior. Veem uma derrota como "humilhação" e, portanto, como uma opção que vá trazer desgraça para o seu grupo.

Já que a campanha eleitoral incorporou comportamento de torcida maluca, reduzindo a política a um grande Corinthians e Palmeiras, BaVi, Grenal ou Fla-Flu, por que não aplicar as mesmas punições a que estão sujeitas as organizadas?

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Por exemplo, tirar pontos do "time" (ou minutos de rádio e TV) caso sua "torcida" for responsabilizada por homofobia, transfobia, racismo, machismo, intolerância e outras bizarrices afins relacionadas à campanha.

O mesmo valeria para os próprios candidatos quando estes se encontrassem para uma pelada no terrão, quer dizer, debate ou falasse em palanques.

É claro que esses crimes continuariam a acontecer e muitos times fariam vistas grossas ou mesmo dariam apoio de forma velada ao preconceito.

Mas seria uma indicação de que há coisas que não podem e não devem ser toleradas.

– E se alguém se fizer passar por apoiador de outro candidato?

– Cadê minha liberdade de expressão?

– Vai chamar a mamãe agora?

– Ah, mas que radicalismo!

– Deixa o povo se divertir.

– É só brincadeira.

Não, não é. Eleições não podem ser usadas como um território livre para propagar o ódio. Sou contra a censura prévia, mas acredito que as pessoas devam ser responsabilizadas pelos seus atos. E se os candidatos não são capazes de vir a público repudiar comportamentos e comentários violentos de seus eleitores e, bem pelo contrário, eles próprios incentivam essa zorra ao não agirem da forma como se espera de um futuro mandatário, que arquem com as consequências.

E não importa se são cem ou mil os que fizeram a besteira. Diante de homofobia, racismo, machismo ou crimes de intolerância o silêncio por parte dos outros torcedores – ou, pior, os likes, compartilhamentos e retuitadas em redes sociais – é sim conivência.

As campanhas não gostam tanto do discurso de mudança? Então, tomem vergonha e comecem a mudar a si próprias.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto