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Urgente: Notícias sobre o Plano para a Implementação do Comunismo no Brasil

Leonardo Sakamoto

01/11/2014 11h50

Às 10h da noite do dia 22 de junho, um grisalho senhor com um pesado casaco preto e uma elegância parada no tempo tocou a campainha e me entregou um envelope. Logo depois, sumiu num táxi velho. No envelope, um documento rasgado que levou muito durex para ser recuperado. Surpresa, os paranóicos tinham razão: era um relatório de andamento da etapa 12 do Plano para a Implementação do Comunismo no Brasil.

No dia seguinte, publiquei-o aqui neste espaço. Houve espanto e ranger de dentes.

É claro que isso não ficaria impune e, nas semanas seguintes, fui seguido.

Um Lada Niva vermelho, com insulfilm nas janelas, passou dois meses estacionado, todas as noites, do outro lado da rua. Parado, estático, desesperador. Uma menininha veio até mim enquanto eu corria no parque do Ibirapuera. Disse que se chamava Rosa e passou um recado: "você sabe que não deveria ter feito isso". Depois, perseguindo um labrador caramelo, desapareceu. E só percebi em casa que, junto com a receita para dada pelo médico, havia um postal de Havana e, nele, escrito: "La muerte nos llega a todos". Sem contar que o cobrador da linha Vila Iório – Terminal Pinheiros cantarola a Internacional Socialista quando me vê cruzar a sua catraca.

Eles estão em todos os lugares.

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Na noite deste 31 de outubro, a campainha novamente soou, o que fez minha espinha gelar. O mesmo senhor grisalho com o mesmo casaco preto estava na porta com outro envelope na mão. Atirei contra ele um rosário de perguntas, às quais tive o silêncio como resposta. Gritei: "Por que eu? Por quê?" Sabia que aquilo ia me colocar em uma enrascada, mas não pude deixar de pegar o envelope e viver o déjà vu de vê-lo entrar no mesmo táxi velho e desaparecer.

Não sei se me deixarão livre depois disso. Mas, que se dane! Cansei de viver com medo.

Novamente peço que gaste alguns minutos para ler o conteúdo do envelope. Se não for por você, que seja por seus filhos e netos.

Plano para a Implementação do Comunismo no Brasil
Etapa 17 – Andamento

Cópia para leitura. Não xerocar ou escanear.

1) A companheira disfarçada de senadora ruralista executou muito bem o papel dado a ela. Com isso, deverá assumir o Ministério da Agricultura e Pecuária em janeiro. Don Ramón informou que a companheira já está ciente que terá pouco tempo para terminar a formatação da guerrilha de fundamentação maoísta e distribuir as AK-47 que vieram junto com os falsos imigrantes haitianos para os núcleos rurais. O comitê, contudo, negou seu pedido de voltar a Cuba para as celebrações da revolução. Ela compreendeu a conjuntura.

2) Aprovamos uma moção parabenizando o companheiro Haddad por ter conseguido cobrir a cidade de São Paulo de vermelho sob a inocente justificativa de "instalar ciclovias". Apesar de alguma resistência da burguesia, a população parece ter engolido a história. O poder da mensagem subliminar já se faz sentir, principalmente entre a juventude branca de classe média alta que possui bicicleta.

3) Vem também da célula islâmica paulista deste comitê outra notícia alvissareira: o companheiro de codinome "Libanês" será o indicado para o Ministério das Cidades. Com isso, poderá mobilizar nossa rede de prefeitos a fim de trazer os argelinos, dois para cada cidade, conforme meta prevista na etapa 4. Mohamed, representante dos companheiros argelinos, pediu para informar que eles estão ficando impacientes no centro de treinamento de Ain el Beida.

4) Estamos trabalhando para que um de nossos infiltrados nas presidências dos três grandes bancos privados assuma o Ministério da Fazenda. A medida facilitará o lastreamento da economia brasileira em rublos, pesos cubanos, wons norte-coreanos, bolívares venezuelanos e, é claro, a Pa'anga, da ilha de Tonga, conforme previsto na etapa 9.

5) Analisamos com apreensão a concessão de prisão domiciliar de José Dirceu. Desde que o ex-companheiro passou informações fundamentais sobre a existência deste comitê em uma noite de sevícias com uma espiã da CIA, caiu em desgraça. Don Ramón informou que um Lada Niva vermelho será posicionado em frente à sua residência.

6) Para acalmar a todos e todas, gostaríamos de informar que partiu deste comitê a ordem para que o companheiro de codinome "Potiguar" derrubasse o decreto que ampliava os "instrumentos de participação social". Isso ocorreu após longa análise mostrando que a proposta para substituir o Poder Legislativo paulatinamente por um conjunto de comitês bolivarianos alinhados conosco é por demais reformista. Atende às reivindicações pequeno-burguesas de junho de 2013, mas apenas adia a inexorável revolução. O companheiro Potiguar pede para voltar a Caracas no começo do ano, quando termina seu mandato. O pedido foi aceito e seu nome será gravado no Memorial da Revolução, a ser construído oportunamente.

7) O companheiro de codinome "Neves" informa que cumpriu com êxito a tarefa a ele incumbida.

8) Foi aprovada uma moção para que os companheiros infiltrados na polícia rodoviária impeçam os caminhões de iogurte grego premium de chegarem aos supermercados do Leblon e da Lagoa, no Rio de Janeiro, e de Higienópolis e dos Jardins, em São Paulo, de forma a criar pânico e apreensão na classe burguesa. A desorientação causada pelo desabastecimento de iogurte grego premium servirá como uma necessária distração até que os comentários sobre o companheiro Yousseff saiam da mídia.

9) O companheiro Fernando Henrique trouxe notícias de fora. Diz que a companheira Merkel autorizou novo repasse de recursos para nossos centros de treinamento de jovens na Bolívia mas que, infelizmente, os trotskistas franceses não chegaram a um consenso sobre o nome do núcleo de apoio ao Brasil e não poderão ajudar. Fernando também esteve com o companheiro Obama, quando defendeu que a legalização da maconha para as Américas poderia contribuir com a derrocada da indústria farmacêutica, financiadora da burguesia brasileira. Obama concordou e pediu ao companheiro Oliver Stone que fizesse um documentário sobre isso.

10) Don Ramón lembra que a "Moça" está pronta. Depois das cirurgias plásticas em Pequim e dos anos de treinamentos para aprender os hábitos, histórias e o gênio ruim de Dilma Rousseff, a "troca" deve ocorrer em uma das sessões de Netflix no Palácio do Alvorada, que parece ser a única diversão da presidente. Conforme discutido na etapa 12, para evitar que doadores de campanha do setor empresarial sintam a diferença, a "Moça" está instruída a manter a política entreguista por mais seis meses. É prazo mais do que suficiente para que o carregamento de armas norte-coreanas do companheiro Kim Jong-un chegue ao porto de Santos.

Até a vitória, sempre.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto