Topo

Você já fez o papel ridículo de "líder de torcida" na rede?

Leonardo Sakamoto

02/09/2015 07h33

Creio que bati um recorde pessoal. Quase que imediatamente, fui chamado de petralha mamador das tetas da Dilma, ao criticar um política do PSDB. E de tucano capacho do Partido da Imprensa Golpista e sugador do Alckmin ao criticar uma política do PT. Detalhe: as reações foram sobre uma mesma fala.

Desculpem a história em primeira pessoa, mas, afinal, isto é um blog. Lembrei-me de uma historieta. Algum tempo atrás, um assessor político no Congresso Nacional disse que um certo texto meu sobre a situação social no Maranhão, apesar de bem apurado e com informação, seria pouco distribuído nas redes sociais.

O post trazia críticas às gestões Sarney, por conta de um assunto, e questionava a atual gestão Flávio Dino, por outro. E daí, segundo ele, residia meu erro.

Pois nem a "torcida" dos Sarney, nem a "torcida" do Dino se sentiriam à vontade de compartilhá-lo e tuitá-lo, uma vez que era negativo aos dois.

E ele acertou em cheio. A dica seria, da próxima vez, dividir em dois, agradando, assim, diferentes públicos, como muita gente faz.

Amo essa nossa sociedade binária, dos "homens de bem" contra o mal.

Porque muitos dos textos em redes sociais não circulam como sugestão de leitura a amigos ou desconhecidos, mas para servir de munição aos que atuam de forma voluntária (por crença pessoal) ou paga (por crença ao dinheiro) na defesa a visão de um determinado grupo em uma guerra digital deflagrada e cada vez mais violenta.

Num momento em que reduzem o número de leitores e cidadãos e aumentam o de fãs clubes e torcedores, somos sistematicamente coagidos a nos tornarmos cheerleaders de um grupo político e defendê-lo até a morte. Caso contrário, somos vistos como incoerentes.

Incoerente é o cidadão deixar o senso crítico no congelador e terceirizar a interpretação da realidade. Para muitos, uma mensagem anônima no WhastApp é mais agradável que cinco minutos de reflexão solitária – pois nunca se sabe aonde a autocrítica pode nos levar. Para esses, dedico – não o meu desprezo – mas minha compaixão. Com fé e perseverança, uma dia vão perceber que desperdiçaram um naco de suas vidas.

Ou como disse um leitor em pane: "Você é um hipócrita. Sabemos que você comprou um Porsche, uma cobertura duplex e um apartamento em Paris com os pixulecos que ganha para defender o governo, mas critica o governo toda a hora. Qual o seu problema?"

Meu problema? É não saber onde parei o Porsche. E ainda ter a curiosidade mórbida de ler alguns debates em redes sociais.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Você já fez o papel ridículo de "líder de torcida" na rede? - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto