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Paranormais da PM paulista recomendaram ataque preventivo a manifestantes

Leonardo Sakamoto

12/01/2016 22h40

Que crime os manifestantes contra o aumento das passagens de metrô, ônibus e trens cometeram para serem alvo de bombas da Polícia Militar, na tarde desta terça (12), em São Paulo, antes mesmo do protesto começar?

Resposta: nenhum.

Mas o governo do Estado de São Paulo tem outra resposta: nenhum ainda.

Sim, a principal razão do ataque foi o risco de causar problemas. Risco na opinião da polícia, é claro.

Mas se alguém é atacado e/ou preso antes de cometer um crime, essa pessoa pode ser acusada por este crime uma vez que o motivo que levou à sua prisão nunca ocorreu e muito provavelmente não ocorra?

Pouco importa. Em nome de manter as aparências para o mundo, a lógica foi assassinada há tempos.

Fiquei quebrando a cabeça para entender como a inteligência (sic) da polícia paulista tem tanta certeza que os ativistas vão cometer crimes para terem seus direitos fundamentais enterrados.

Descobri que, encantada com o filme Minority Report – A Nova Lei (estrelado por Tom Cruise e dirigido por Steven Spielberg), a área de Segurança Pública de São Paulo, criou a Divisão de Pré-Crime.

Nesse setor, o futuro é visualizado antecipadamente por paranormais. Dessa forma, o culpado é descoberto antes que o crime seja cometido. Essa informação é fornecidas ao Batalhão de Choque, que lança bombas e realiza prisões para bloquear a ocorrência.

A experiência já havia sido adotada pela polícia do Rio de Janeiro por ocasião da Copa do Mundo e foi relatada neste blog. Agora, começa a ser implantada em São Paulo e retomo aquele texto, atualizando para a terra do orgulho bandeirante.

Vocês que estão tristes porque isso parece mais o comportamento de uma ditadura do que de uma democracia, alegrem-se. Percebam o potencial disso.

Se aplicarmos a tecnologia dos paranormais da polícia de São Paulo para as eleições descobriremos quais políticos que, quando chegam ao poder, são incapazes de garantir os direitos mais fundamentais de seus cidadãos. Como o direito à livre manifestação. E o direito de não ser atacado, nem preso, por um crime que não se cometeu.

Assim, fica fácil saber quem não deve ser eleito.

Em tempo: a Divisão Pré-Crime passou a ser usada contra manifestações, mas já é testada, há anos, contra moradores de favelas e jovens pobres e negros em geral.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto