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Oito dicas para descobrir se um texto quer te enganar

Leonardo Sakamoto

12/02/2016 18h43

Algumas mensagens travestem opinião como dados isentos e descontextualizam ou ocultam fatos que não são interessantes para o argumento defendido. Querem, dessa forma, te enganar. Trago novamente algumas sugestões reunidas tempos atrás por Rodrigo Ratier, jornalista e doutor em pedagogia, grande especialista na área de educação e comunicação, para usar a lógica a fim de perceber problemas nos textos:

1) "A camisinha não protege contra o vírus HIV. A epidemia de Aids cresceu justamente porque se confia nessa proteção", disse um bispo certa vez. – Desconfie dos argumentos de autoridade. Não é porque o Papa, o Patriarca de Istambul ou a Bispa Sônia disseram algo que você tem que acreditar, não é? O mesmo vale para o presidente da sua associação de moradores ou o diretor do seu sindicato. É preciso provar o que se diz. Exija confirmação dos fatos ou vá atrás dela.

2) "Não ouviremos as posições do antropólogo Luiz Mott sobre o casamento gay: ele é homossexual." – Para desmontar um discurso, não se ataca o argumentador, mas sim o argumento.

3) "Não dá para acreditar nisso, pois surgiu de um economista que se considera de direita." – Não se ridiculariza o outro apenas por ser seu adversário.

4) "Antes do MST existir, não havia violência no campo." – Falsa relação de causa e consequência – um fato que acontece depois do outro não necessariamente foi causado pelo primeiro.

5) "Na guerra contra a violência, ou você apoia a morte de bandidos ou está mancomunado a eles." – É errado excluir o meio termo. Um debate maniqueísta é mais fácil de ser entendido, mas o mundo real não é um Palmeiras e Corinthians, um Fla-Flu, um Grenal, enfim, vocês entenderam.

6) "Ou se dá o peixe ou se ensina a pescar." – Isso é uma falsa oposição. Não se opõe curto e longo prazo necessariamente. Uma ação não invalida a outra. Elas podem ser, inclusive, subsequentes ou coordenadas.

7) "Isso não é demissão. A empresa apenas avisou que precisará passar por um redimensionamento do quadro de colaboradores." – Não se deixe levar pelos eufemismos. Nem por quem fala bonito. Uma pessoa pode te xingar e você, às vezes, nem vai perceber se não se atentar para as palavras que ela escolheu.

8) "Avenida Faria Lima, Águas Espraiadas, Imigrantes, Minhocão, Rodovia dos Trabalhadores: alguém aí consegue imaginar São Paulo sem todas essas obras feitas pelo Maluf?" – Desconfie dos e-mails que contém um monte de acertos de alguém e ignoram, solenemente, os erros.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto