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Teste: Você consegue diferenciar opinião e mensagem de ódio?

Leonardo Sakamoto

04/07/2016 12h16

Muitos interpretam opiniões com críticas feitas por terceiros como discursos de ódio. E, ao mesmo tempo, acreditam que os discursos de ódio que eles mesmos proferem são apenas críticas e opiniões. Ou seja, ódio é tudo aquilo com o qual não concordam.

Sei que a discussão é complexa porque há uma carga grande de subjetividade e relatividade que envolvem pontos de vista e lugares de fala. Já tratei aqui uma pancada de vezes sobre a diferença entre discurso de ódio e liberdade de expressão e da difícil caminhada para aceitarmos o outro ao invés de querermos arrancar seus olhos, fritar seu fígado em óleo quente e usar seus órgãos genitais como isca para peixe.

Mas, por vivermos em uma sociedade com regras e história, temos balizas para separar o que é esgoto do que é água potável e discurso de ódio é delimitado e conhecido pela nossa legislação. Além disso,  somos seres racionais – pelo menos o bastante para não encarar qualquer contestação às nossas opiniões ou ao nosso modo de vida como um ataque à dignidade da humanidade e o armagedom.

Claro que deixamos escapar, com isso, os profissionais da retórica da provocação do ódio: aqueles que montam seus discursos de forma competente para que seus leitores e ouvintes sintam raiva e queiram exterminar outros grupos sociais sem que, para isso, precise ele próprio dizer nada.

Esse tipo de profissional é fascinante por duas razões: primeiro, o discurso de ódio propriamente dito fica não por sua conta, mas de seus comentaristas ou grupos de apoio – formalmente, ele é apenas a faísca que dispara o processo. E, em segundo lugar, pois, quando acusado tende a usar como resposta não a defesa da própria liberdade de expressão, mas que o outro é que está provocando o ódio contra ele.

Devemos dar o braço a torcer porque são geniais. São comunicadores, políticos e religiosos e estão no nosso dia a dia, nos fazendo sentir ódio pelo que não conhecemos sem que sejamos capazes de perceber.

Cada um que não compra discursos enlatados (inclusive deste que vos escreve), não se deixa enganar pelos que provocam sem sujar as mãos e ouve as razões dos que pensam e vivem de uma maneira diferente sem achar que eles são a representação do mal, certamente tem mais facilidade de identificar o que é ódio e o que é opinião.

Porque consegue se colocar no lugar das pessoas que são alvo da agressão e entende que não estamos falando de criar grupos imunes a críticas, mas de evitar que grupos sejam mortos ou violentados nesse processo.

Vamos lá, respondam rápido só para treinar a reflexão: é discurso de ódio ou é opinião?

1) Um texto propõe exterminar, trucidar, torturar, espancar, linchar uma pessoa ou um grupo de pessoas pelo que são ou representam.
a) É discurso de ódio
b) É opinião

2) Um comentarista faz duríssimas acusações a alguém ou alguma coisa que você respeita, mas não incita violência de terceiros contra ela.
a) É discurso de ódio
b) É opinião

3) Alguém tuíta dizendo que Deus não existe.
a) É discurso de ódio
b) É opinião

4) Aliás, alguém tuíta dizendo que Deus é mulher e negra.
a) É discurso de ódio
b) É opinião

5) Um mensagem na lista de discussão convoca as pessoas a perseguirem, assediarem e até atacarem jornalistas.
a) É discurso de ódio
b) É opinião

6) Um post ridiculariza o lugar onde você nasceu, independentemente se com razão ou não.
a) É discurso de ódio
b) É opinião

7) Um político diz que alguém não merece ser estuprada.
a) É discurso de ódio
b) É opinião

8) Alguém defende fazer uma fogueira com os livros de história "esquerdistas".
a) É discurso de ódio
b) É opinião

9) Um candidato conclama que a população a enfrentar os homossexuais que lutam por seus direitos.
a) É discurso de ódio
b) É opinião

10) Alguém escreve que é preciso processar professores que insistam em falar de gênero na sala de aula.
a) É discurso de ódio
b) É opinião

Respostas: Considerando o ponto de vista de respeito aos direitos humanos conforme prevê a Constituição Federal e a jurisprudência brasileira, os resultados seriam 1) a; 2) b; 3) b; 4) b; 5) a; 6) b; 7) a; 8) a; 9) a; 10) a.

Mas o melhor dessas perguntas não é a resposta, mas o caminho que cada um de nós faz até chegar a ela e a percepção de que o mais importante é entender que nossa liberdade pessoal para falar é tão importante quanto o direito à dignidade dos alvos de nossas críticas.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto