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Há só 40 pessoas nessa foto? Michel Temer é nosso Mick Jagger das previsões

Leonardo Sakamoto

04/09/2016 23h02

Michel Temer havia chamado de inexpressivas as manifestações que protestam contra o processo de impeachment que o conduziu ao poder presidencial. "São pequenos grupos, parece que são grupos mínimos, né? Não tenho numericamente, mas são 40, 50, 100 pessoas, nada mais do que isso."

Daí, neste domingo (4), manifestações reuniram uma multidão de pessoas em várias cidades do país contra o seu governo e a favor de eleições diretas para a Presidência da Repúlica. Apenas em São Paulo, os organizadores do evento estimaram em 100 mil almas.

Manifestantes seguem pela avenida Paulista em direção ao Largo da Batata, em São Paulo Foto: Marlene Bergamo/Folhapress

Acredito que, sem querer, tropeçamos em uma descoberta científica que pode mudar a história do país: o desdém de Michel, com ou sem o uso de mesóclises, é capaz de levar à mobilização popular.

Por isso, peço a ele que dê as seguintes declarações:

"Apenas meia dúzia de gatos pingados irão às ruas quando introduzirmos a idade de mínima de 65 anos para a aposentadoria na Reforma da Previdência que meu governo irá apresentar."

"Levantar-me-ei de espanto caso haja uma dúzia de insatisfeitos reclamando de precarização de empregos quando aprovarmos o projeto que amplia a terceirização legal."

"Acredito que não passem de 25 o número dos que serão contrários à imposição de um teto para os investimentos públicos em educação e saúde que estamos propondo."

"Dar-me-ei o direito de alterar a CLT em nome do crescimento do país. Certamente apenas uns 20 ou 30 desinformados, que não entendem que, caso não se flexibilize as leis trabalhistas, as pessoas ficarão sem emprego, devem protestar."

Algo me diz que tem um quê de Mick Jagger em Michel Temer. Não pela qualidade das composições artísticas de ambos ("Anônima Intimidade" não está exatamente à altura de "Satisfaction"), mas pelo pé frio nas declarações.

Se esse for o caso, sugiro que Michel faça, assim que voltar da China, um pronunciamento à nação afirmando que tem certeza que eleições diretas já para a Presidência da República não irão ocorrer, que ele terminará o seu mandato completando o programa de retrocessos de direitos ao qual está se propondo e que o Palmeiras não será campeão brasileiro de 2016.

Vai, Michel! Nunca te pedi nada!

Em tempo: A manifestação em São Paulo seguiu pacífica durante todo o seu trajeto, inclusive com os organizadores atuando no controle da segurança, ao contrário do que vem sendo dito em muitos locais. Ao final, o poder público de São Paulo desceu, mais uma vez, o cacete sob a justificativa de controlar "vândalos". Se a polícia paulista não consegue utilizar de inteligência para controlar meia dúzia de pessoas que atacam patrimônio sem ferir e dispersar uma multidão, incluindo colegas jornalistas que estão aqui para registrar os fatos, então sugiro que – como diria o Capitão Nascimento – peça para sair e chame alguém que consiga.

A menos que seja orientação política ou sadismo puro. Daí, é questão de destituição do poder ou psicanálise.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto