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Paralisação da PM no Rio traria medo a ricos e paz a pobres?

Leonardo Sakamoto

12/02/2017 20h17

Dada as reivindicações de melhores condições de trabalho a policiais militares no Rio de Janeiro feitas por seus familiares e considerando o aumento de violência nas ruas que ocorreu após a paralisação da categoria no vizinho Espírito Santo, narrativas de medo se espalharam em redes sociais alimentados por boatos sobre uma greve. Houve até lunáticos que pedissem que as Forças Armadas assumissem, de uma vez, o controle do país para garantir que não faltasse segurança aos "homens e mulheres de bem". Forças Armadas que estão preparadas para a guerra, não para garantir a segurança da população, como no caso do rapaz morto pelo Exército no Espírito Santo.

Enquanto isso, sob a justificativa de fazer incursões contra criminosos, a Polícia Militar do Rio transformou o Complexo do Alemão em campo de batalha novamente. Denúncias de esculachos e invasões de casas sem mandado judicial se espalharam. A maioria da população, que não está envolvida com roubos ou tráfico de drogas, deve estar cansada quando a polícia, que deveria protegê-la dos bandidos, usa métodos parecidos com os deles para vencer a "guerra".

Quem acha que o Estado age da mesma forma com ricos e pobres é inocente. Quem esquece que policiais ganham mal e, muitas vezes, são treinados para passar por cima do mesmo grupo social a que pertencem em nome do patrimônio dos mais ricos é sacana. Quem abertamente diz que os mais ricos em uma cidade como o Rio de Janeiro, São Paulo, entre outras, estão à mercê do mesmo tipo de violência que jovens negros e pobres da periferia é desonesto. E quem acredita que os mais excluídos não sofrem quando as Forças Armadas substituem a polícia não estudou História.

Estranho país este em que uma paralisação policial pode levar muito medo a quem algo possui e alguma paz aos que nada têm.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto