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O machismo de Temer fortalece a violência contra a mulher no Brasil

Leonardo Sakamoto

08/03/2017 19h00

A cada 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, nós, homens, deveríamos parar, ler, ouvir e refletir sobre como temos sido, consciente ou inconscientemente, por nossas ações ou nossa omissão, física ou psicologicamente, instrumentos de dor e opressão. É (mais) um dia de luta para elas e deveria ser de silêncio para nós.

Daí, aparece Michel "Ministério de Homens Brancos" Temer. E, ignorando isso, resolve escancarar o que pensa das mulheres em homenagem à data:

A mulher é, seguramente, a única responsável pela gestão da casa e o futuro das filhas e dos filhos.

Proferiu Temer: "Tenho absoluta convicção, até por formação familiar e por estar ao lado da Marcela, do quanto a mulher faz pela casa, pelo lar. Do que faz pelos filhos. E, se a sociedade de alguma maneira vai bem e os filhos crescem, é porque tiveram uma adequada formação em suas casas e, seguramente, isso quem faz não é o homem, é a mulher."

A grande participação da mulher na economia é através da administração do lar.

Decretou Temer: "Na economia, também, a mulher tem uma grande participação. Ninguém mais é capaz de indicar os desajustes, por exemplo, de preços em supermercados mais do que a mulher. Ninguém é capaz melhor de identificar eventuais flutuações econômicas do que a mulher, pelo orçamento doméstico maior ou menor."

A mulher deve ser feliz por poder trabalhar, desde que não abandone os afazeres domésticos. Que, como já explicado acima, são sua responsabilidade.

Declamou Temer: "Com a recessão indo embora, volta o crescimento, volta o emprego. Hoje, graças a Deus, as mulheres tem possibilidade de empregabilidade que não tinha no ano passado. Com a queda da inflação, dos juros, significa que também, além de cuidar dos afazeres domésticos, terá um caminho cada vez mais longo para o emprego."

A ONU e o IBGE estão errados. Mulheres ganham o mesmo que os homens pela mesma função no Brasil.

Avaliou Temer: "Homens e mulheres são igualmente empregados." "Com algumas restrições." "Mas a gente vê o número de mulheres que comandam empresas."

Uma das funções do Estado e de seus gestores deveria ser a de deixar claro que qualquer violência de nós, homens, contra as mulheres não pode ficar sem resposta e punição.

Ao invés disso, com seu discurso tosco, preconceituoso, recheado de incorreções e totalmente afastado da realidade brasileira, Michel Temer foi vetor de manutenção e de propagação do machismo.

Infelizmente, não é só o ocupante do Palácio do Planalto que pensa dessa forma. Ele apenas externou a opinião de milhões de outros homens que, agora, estão se sentindo empoderados pelas porcarias ditas por seu presidente. O desserviço prestado por ele vai custar mais tempo de negação da dignidade para muita gente.

O medo, aliás, é que nada tenha sido gafe. Temer pode ter pensado e falado isso propositalmente para quem ele acredita ser seu público.

Neste dia e sobre esse assunto, meus caros, se não têm nada de muito bom para falar, simplesmente fiquem calados. Aliás, de preferência, fiquemos calados de qualquer forma.

Michel Temer perdeu (de novo) uma grande chance.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto