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Como Michel Temer, com 3% de aprovação, ainda é presidente?

Leonardo Sakamoto

28/09/2017 13h10

Foto: Sergio Lima/Poder 360

Michel Temer segue audaciosamente indo aonde ninguém jamais esteve. Pesquisa Ibope, divulgada nesta quinta (28), mostra que apenas 3% da população considera seu governo ótimo ou bom enquanto 77% o avalia como ruim ou péssimo.

Essa aprovação ridícula é menor que os 5% que ele havia ostentado na última pesquisa Ibope, de 27 de julho, quando realizou a façanha de bater o índice da impedida Dilma Rousseff (9%) e do hiperinflacionário José Sarney (7%).

Alguém pode considerar que a margem de erro desta pesquisa (dois pontos para mais ou para menos) significa estabilidade em relação à anterior. Porém, o total de ruim e péssimo aumentou de 70% para 77% em dois meses. Outros números que reforçam a certeza de que a avaliação geral piorou: 92% da população diz não confiar nele e 72% afirma que o restante do governo será ruim ou péssimo.

De acordo com o Ibope, a maioria absoluta da população brasileira acha que o país, sob Temer, vai ser o ó do borogodó até janeiro de 2019. Porque, apesar de um ou outro sinal de melhora na economia, empregos não estão sendo criados no ritmo para aplacar a queda na qualidade de vida dos trabalhadores. E abundam notícias sobre retrocessos ambientais promovidos pelo poder público e denúncias criminais contra o próprio presidente.

Antes, quando confrontado com certas críticas, Temer buscava, ao menos, dar uma nova justificativa para uma presepada. Agora, diante de números como os divulgados hoje, seu governo adotou o "foda-se" como política. Afinal, ele não precisa tentar agradar o eleitorado. Sabe que não será reeleito e, ao final de seu mandato, pode até ser processado e preso por corrupção. Por isso, se esforça em manter a simpatia do grande empresariado e da maioria do Congresso Nacional para chegar até final do mandato.

Ele sabe que poucos o levam a sério e que o mínimo de credibilidade da gestão reside sob a equipe de Henrique Meirelles, ministro da Fazenda. Então para que se preocupar? Seu governo usa e abusa de "fatos alternativos", expressão consagrada por Kellyanne Conway, assessora de Donald Trump, para rebatizar "mentiras" divulgadas pela administração norte-americana.

E, livre das amarras do eleitorado, Temer vem aplicando um pacote de medidas que mexe diretamente com a qualidade de vida da população mais vulnerável atendendo demandas de parte das grandes empresas e do mercado financeiro, que ajudam a sustentar seu governo. Por mais que não morram de amores pelo Poeta da Mesóclise, há uma genuína satisfação de um naco do poder econômico pela implementação de uma agenda que nunca seria eleita pelo voto popular. Satisfação que se soma à dos velhos políticos. Que veem na manutenção de Temer uma forma de proteção à guilhotina da Lava Jato, e, ao mesmo tempo, uma possibilidade de mais pilhagem sobre o tesouro público e um atalho para mudanças legislativas que agradem a seus patrocinadores. Pronto, com isso temos uma ideia de quem compõe esses 3%.

Qual a motivação para um cidadão comum, que rala o dia inteiro e não tenta levar vantagem sobre o vizinho, quando vê o presidente da República e sua cúpula envolvidos em tanta porcaria e nada acontecendo com eles? Vendo alguém com 3% de aprovação e denunciado formalmente por crimes determinado o seu futuro? Ou quando constata que, apesar da punição de alguns grandes empresários, o interesse da minoria que tem dinheiro segue suplantando a qualidade de vida de quem não tem. Só isso explica, por exemplo, a manutenção de um sistema tributário que tira dos pobres para manter o dos ricos. Sim, o cidadão comum se sente um idiota por agir honestamente e não "tirar o seu".

O custo da manutenção de um mandatário com 3% de aprovação – denunciado por envolvimento em corrupção e organização criminosa, que compra votos a céu aberto e rifa parte do Estado a grupos de interesses, através de perdões de dívidas bilionárias ou mudança de regras e leis – está levando a confiança das instituições ao nada.

Quando instituições estão esgarçadas e desacreditadas, a melhor maneira de reestabelecer o equilíbrio seria devolver ao povo o direito de escolher diretamente um novo mandatário para governá-lo. Ao que tudo indica, isso não deve acontecer, por falta de consenso político, por falta de melhor opção, por falta de mobilização e projetos alternativos, por muitos terem perdido a fé no país, por um grupo menor 3%, mas poderoso, estar ganhando muito com tudo isso.

E quanto menor o número de brasileiros que aprova esse governo, maior o número daqueles que não acreditam na política como a arena por excelência das soluções da vida cotidiana, abrindo espaço para quem defende saídas rápidas, vazias, populistas e, não raro, autoritárias e enganosas para resolver tudo isso que está aí.

Manter Temer vivo por aparelhos pode nos custar nossa já pálida democracia.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto