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Facebook anuncia recadastramento de páginas contra manipulação em eleições

Leonardo Sakamoto

07/04/2018 09h56

A vereadora Marielle Franco, executada no Rio, vítima de difusão de notícias falsas. Foto: Márcia Foletto/Agência o Globo

O Facebook anunciou, nesta sexta (6), o recadastramento de páginas "com um grande número de seguidores" em sua rede social. De acordo com a empresa, caso os perfis que as administram não consigam comprovar que não são falsos, mas correspondam a pessoas reais, serão impossibilitados de atualizá-las.

A empresa não informou, por questões estratégicas, a linha de corte para o "grande número de seguidores". Quer evitar que os responsáveis por páginas baseadas em perfis falsos driblem as regras, com a criação de páginas menores para propagar conteúdo voltado à manipulação.

No mesmo dia, o CEO e fundador da empresa, Mark Zuckerberg, falou dessa ação em seu perfil pessoal: "Para exigir a verificação de todas essas páginas e anunciantes, contrataremos milhares de pessoas. Estamos comprometidos em fazer isso a tempo para os meses críticos antes das eleições de 2018".

O Brasil junto com os Estados Unidos, México e Índia são países que devem ser foco de políticas da companhia voltadas a combater interferência eleitoral neste ano. E cita a interferência russa nas eleições norte-americanas de 2016, centrando fogo na eliminação de contas falsas.

Em nota de Rob Goldman, vice-presidente de anúncios, e Alex Himel, vice-presidente de páginas, a empresa também informou que os anunciantes que queiram impulsionar publicações sobre temas políticos que estejam sendo debatidos em âmbito nacional de cada país terão que confirmar identidade e localização.

Esses anúncios serão identificados no canto superior esquerdo como o aviso "Anúncio Político". Ao lado, constará a informação do nome do verdadeiros responsável pelo pagamento, indicado como "Pago por". Anúncios que conseguirem passar pelo crivo da empresa poderão ser denunciados pelos usuários.

Em junho, o Facebook pretende lançar uma ferramenta para mostrar todos os anúncios veiculados por uma determinada página – mesmo os chamados "dark posts", voltados a um público específico e que, portanto, ficam invisíveis jornalistas e para os demais extratos sociais. O que, em uma campanha, tem sido uma ferramenta de manipulação e desinformação.

Tanto a nota pública sobre as mudanças de políticas para páginas e anúncios quanto a postagem no perfil de Mark Zuckerberg não tratam do recente escândalo envolvendo a consultoria Cambridge Analytica, em que o Facebook é acusado de possibilitar o vazamento de dados de quase 90 milhões de pessoas de forma não autorizada. A consultoria, com suas ferramentas para manipular a opinião pública, ajudou a eleger Donald Trump presidente dos Estados Unidos.

Dessa forma, a empresa estende à sua rede social a mesma ação que levou ao bloqueio e, depois, retirada do ar da página Ceticismo Político, ligada ao MBL, no último dia 24 de março.

Logo após a execução da vereadora Marielle Franco, no dia 14 de março, no Rio de Janeiro, ter criado comoção nas redes sociais e veículos de comunicação em todo o mundo, passaram a circular informação falsa com o objetivo de ferir a reputação dessa liderança social. Entre o conteúdo fraudulento, boatos e notícias falsas de que ela seria namorada do traficante Marcinho VP e aliada de uma facção criminosa.

O jornal O Globo denunciou que um dos links mais compartilhados para a difusão desses boatos vinha do site Ceticismo Político, que afirmava ser administrado pelo pseudônimo "Luciano Ayan", um antigo conhecido entre os produtores de desinformação na rede. O conteúdo foi divulgado através da página com mesmo nome no Facebook. E, logo depois, reproduzido pela página do MBL na mesma rede social.

Diante da polêmica, o Facebook retirou do ar a página Ceticismo Político e dois perfis atribuídos ao nome "Luciano Ayan", nos dias 23 e 24. Na época, questionado por este blog, informou: "Nossos Padrões da Comunidade não permitem perfis falsos, e contamos com nossa comunidade para denunciar contas assim. Páginas administradas por perfis falsos também violam nossas políticas".

Após o bloqueio de sua página, o site Ceticismo Político publicou um texto de Carlos Augusto de Moraes Afonso, responsável pelo pseudônimo Luciano Ayan e por suas páginas no Facebook. Ele é um dos donos da empresa Yey Inteligência, nome fantasia "Nox", e tem como sócio Pedro Augusto Ferreira Deiro – um dos fundadores do MBL.

 

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto