Dez dicas para não pagar mico ao repassar áudio sobre "intervenção militar"
Leonardo Sakamoto
28/05/2018 20h03
Caminhoneiros fazem barricada na BR-116, perto de Embu (SP), nesta terça. Foto: Everaldo Silva/Futura Press/Folhapress
Você recebeu um áudio ou um texto, na lista de WhatsApp, de alguém que se diz um militar anunciando que uma intervenção/golpe militar é iminente. Antes de passar adiante algo que tem enorme chance de ser falso, seguem dez humildes sugestões. Isso pode ajudar você a não virar motivo de piada entre os amigos e amigas nas redes sociais. Tragédias acontecem, conspirações ocorrem e democracias vão para o saco? Claro. Mas ajudar a criar pânico desnecessário em uma população que já está à flor da pele após uma longa greve de caminhoneiros é muita sacanagem.
1) Antes de mais nada, não passe adiante uma informação que parece bombástica sem checar qual a fonte da informação.
2) Um "cara gente boa", sua mãe e seu "Best Friend Forever" não são, necessariamente, fontes confiáveis de informação. Não confunda ligação afetiva com informação objetiva. E mensagens "apócrifas", sem fonte clara, jamais devem ser aceitas como instrumento de checagem ou comprovação.
3) Cheque o nome do militar que "assina" tal declaração. Use o Google. Veja se a pessoa existe, onde está lotada e se é realmente quem diz que é.
4) Verifique se algum veículo de comunicação conhecido tratou do áudio ou do texto (normalmente, essas informações correm rápido). Procure em sites e páginas que você conhece se elas confirmaram essa informação – prefira sites e páginas que mostrem que são seus responsáveis, com endereço e telefone. Muitos se escondem porque temem ser processados em caso de divulgar informações falsas. Ao divulgar um áudio com uma declaração como essa, veículos e sites sérios procurariam o militar e ligariam para ele fim de checar a informação.
5) Não repasse o áudio ou texto só porque você não gosta de determinado político ou acha que está tudo uma droga e que algo deveria mudar. Ou por que desejaria que aquilo fosse verdade, mesmo tendo a desconfiança de que não é. A disputa entre posições políticas deve ser baseada em um jogo limpo e não em mentiras.
6) Não é por que está todo mundo comentando sobre um áudio ou texto no seu grupo de WhatsApp que ele é verdadeiro. Da mesma forma, um número grande de likes e compartilhamentos não transformam uma mentira em uma verdade.
7) Todos gostamos de sermos os primeiros a dar uma informação bombástica, porque isso cria reconhecimento público. Mas se a informação é mentirosa, ela só vai servir para gerar pânico. Ou seja, você vai estar ajudando a atrapalhar a vida dos outros. Há outras formas de afagar o ego.
8) Se você perceber que um áudio ou texto tem grandes chances de ser falso ou tem evidências disso, não fique em silêncio com medo de ser o chato ou a chata do grupo. Avise aos demais para tomarem cuidado com o conteúdo e que ele pode ser falso. Se te chamarem de "defensor de bandido" ou "estraga prazeres", não esmoreça. Quando colocada contra a parede, uma pessoa que não tem muito conteúdo ataca o interlocutor e não o argumento.
9) Se descobrir que compartilhou um áudio ou texto falso, avise isso ao seu grupo rapidamente. Não tenha vergonha de reconhecer o erro. Todo mundo erra, mas apenas os fortes reconhecem isso e pedem desculpas.
10) Na dúvida, não compartilhe textos e áudios que trazem notícias como golpes militares, desabastecimentos em massa ou conflitos sociais sem checar. Isso é equivalente a gritar "fogo!" em um teatro lotado sem ter a certeza disso, o que pode criar problemas.
Sobre o Autor
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.