Escolas não têm bibliotecas, mas o grande problema para Bolsonaro é Marx
Leonardo Sakamoto
31/12/2018 14h23
Concordo com o presidente eleito: vamos "combater o lixo marxista que se instalou nas instituições de ensino", conforme ele defendeu em mensagem no Twitter neste último dia do ano. Vamos combater essa doutrinação marxista-gayzista-cotista-globalista-comunista-abortista que é a verdadeira causa da tragédia brasileira.
Como Bolsonaro é um político sábio, contudo, tem plena consciência de que é necessário preparar terreno para essa ação que irá salvar o Brasil da infestação vermelha.
Portanto, antes de mais nada, vai melhorar a remuneração dos docentes e servidores públicos da educação, garantindo dignidade a eles e suas famílias. E, ao mesmo tempo, aumentar o nível de sua formação e garantir que estejam constantemente atualizados com o que há de mais moderno do ponto de vista didático e pedagógico.
Depois disso, garantirá recursos para equipar escolas. Algumas não possuem laboratórios para aulas de ciências, infra-estrutura de acesso à rede em alta velocidade, quadras poliesportivas, mas outra não contam nem com bibliotecas, carteiras, lousa ou papel higiênico. De acordo com o Censo Escolar 2017, divulgado pelo Ministério da Educação, das escolas que oferecem ensino fundamental, menos da metade (41,6%) têm rede de esgoto e 65,8% contam com abastecimento público de água. Em 10% delas, não há ao menos um desses três itens: água, energia ou esgoto. Só 54,3% têm bibliotecas ou salas de leitura e 53,5% acesso à banda larga.
E vai implantar atividades de contraturno a fim de elevar o número de escolas em período integral.
E irá conversar com governadores para que jovens que se trancam em suas escolas para protestar contra a falta de merenda e de professores não sejam agraciados com bombas de gás lacrimogênio ou balas de borracha
Certamente, também deve atuar para aumentar e melhorar as escolas técnicas de nível médio, garantindo formação profissional para que os jovens possam entrar no mercado de trabalho. O que inclui proteger de desidratação entidades como o Senai e o Senac, do sistema S.
E ele sabe que é impossível lutar contra a doutrinação marxista-gayzista-cotista-globalista-comunista-abortista de barriga vazia. Então, irá promover uma investigação nacional contra o roubo de recursos que seriam usados para a merenda escolar, levando à sua ausência ou à baixa qualidade, que tanto ganharam as páginas dos jornais não últimos anos.
E falando em dinheiro, nada disso será possível sem uma revisão racional da Emenda do Teto dos Gastos, que limitou o crescimento dos gastos públicos ao aumento da inflação por 20 anos. O que causa impactos em um país que universalizou o acesso à educação, mas produz jovens semianalfabetos com diploma de ensino médio.
Daí sim, limpando esse meio campo, Bolsonaro será capaz de atacar de frente o monstro da doutrinação marxista-gayzista-cotista-globalists-comunista-abortista.
Mas, desconfio, que se ele conseguir fazer tudo isso, perceberá que terá nas mãos uma educação de qualidade com jovens capazes de discernir quando estão tentando enganá-los com discursos doutrinadores que servem para entreter a militância, desviar a atenção da opinião pública e criar uma cortina de fumaça a fim de disfarçar a incompetência dos que os proferem. Da esquerda à direita.
Em tempo: Desejo que, em 2019, todos tenhamos serenidade para reconhecer ironia na internet. Boa virada a todo mundo!
Sobre o Autor
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.