Haddad diz que família Bolsonaro defende a atividade de milicianos
Leonardo Sakamoto
22/01/2019 21h16
"Como é que alguém que manuseou R$ 7 milhões, em três anos, pode ter pedido um empréstimo de R$ 40 mil? Qual o sentido disso? Infelizmente, está tudo muito mal explicado. E, agora, as relações com os milicianos, possivelmente incluindo aqueles envolvidos no assassinato de Marielle Franco."
Fernando Haddad, candidato derrotado do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República, concedeu uma entrevista a este blog em Lisboa, na noite desta terça (22). Ele, que está na Europa para uma série de palestras e reuniões com lideranças de esquerda, falou sobre a polêmica envolvendo as "movimentações atípicas" detectadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) nas contas tanto do policial militar aposentado e ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz quanto nas de seu antigo chefe, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro.
A investigação sobre essas movimentações está suspensa por decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, ao menos até o fim do recesso do Judiciário, no início de fevereiro, a pedido da defesa do deputado.
Haddad repercutiu a operação "Os Intocáveis", realizada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio de Janeiro com o apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil, nesta terça, que teve como alvo milicianos que atuam na Zona Oeste do Rio. Dois dos quais – o major Ronald Paulo Alves Pereira e o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega – foram homenageados pelo deputado estadual na Assembleia Legislativa. Adriano – acusado de comandar o Escritório do Crime, milícia que também está sendo investigada por suspeita de relação com a execução da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, em março do ano passado – teve a esposa e a mãe indicadas para trabalhar no gabinete de Flávio, na Alerj, por Queiroz.
"A família defende a atividade dos milicianos. Recentemente baixou um decreto facilitando a aquisição e a posse de armas e já anunciou que vai facilitar o porte. E para onde isso tudo conduz? Para a legalização das milícias e a privatização da segurança pública?", disse Haddad. "Ouvi Bolsonaro dizendo em uma entrevista que é absolutamente favorável ao pagamento de milícias. Isso significa a privatização do serviço. As comunidades pobres do Rio de Janeiro e de São Paulo, pagando milicianos para a defesa própria, ao invés de colocar o Estado em defesa do cidadão."
De acordo com Haddad, a família Bolsonaro não conseguiu explicar a sua evolução patrimonial. "Você não consegue explicar como eles conseguiram angariar alguma coisa em torno de R$ 15 milhões apenas em patrimônio imobiliário, fora o resto."
O ex-prefeito de São Paulo também falou sobre a imagem do Brasil no exterior no início do governo Jair Bolsonaro, a necessidade de criar um regime único na Reforma da Previdência e a eleição para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
Veja a entrevista:
Sobre o Autor
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.