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"Ouço qualquer ministro, até a Damares", diz Bolsonaro. E o 10 para 1?

Leonardo Sakamoto

22/03/2019 12h46

Foto; Valter Campanato/Agência Brasil

"Qualquer decisão minha, eu ouço qualquer ministro da área, não tomo sozinho, até porque eu posso errar. Até a Damares, por exemplo, que podem achar que é uma ministra com importância… não muito grande, mas tem importância, trata da questão de família, de direitos humanos."

A declaração foi dada por Jair Bolsonaro, durante uma live no Facebook, nesta quinta (21). Damares Alves é a titular do ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.

É notório que o presidente não morre de amores pelo tema dos Direitos Humanos. O mesmo vale para a opinião dos seus seguidores mais radicais, que é o sujeito oculto do trecho "podem achar".

Dizer que, em seu processo de decisão, ele ouve qualquer ministro "até a Damares" foi uma declaração desrespeitosa, mesmo que depois, talvez para amenizar o ato falho, tenha dito que considera o trabalho da ministra "excepcional". Bolsonaro tinha 20 opções de homens na Esplanada para usar como exemplo, escolheu logo uma das únicas duas mulheres.

Independentemente dos subtextos e da boa vontade do receptor com o presidente, fica a impressão que, com isso, alguma coisa não fecha em outra equação que montou para explicar o valor das mulheres em seu governo.

Na cerimônia do Dia Internacional da Mulher, há duas semanas, Bolsonaro afirmou que as ministras de sua equipe "equivalem a dez homens" cada. Consequentemente, segundo ele, "pela primeira vez, o número de ministros e ministras está equilibrado". Além de Damares, a outra mulher é a ministra da Agricultura e Pecuária, Tereza Cristina.

Isso esconde uma questão de fundo. O ministério de Bolsonaro, bem como o primeiro ministério de Michel Temer, é um grupo de homens brancos. Ele fala que a sua equipe foi construída em cima da meritocracia, o que é muito estranho. Pois o que mais existe na sociedade são mulheres e negros com competência para o primeiro escalão de um governo, nos mais diferentes matizes do espectro ideológico.

Ele é livre para escolher quem quiser, foi eleito para tanto. Mas meritocracia não exclui representatividade, diversidade, pluralidade, enfim, não exclui democracia.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto