Bolsonaro intervém no Banco do Brasil por capricho ideológico
Leonardo Sakamoto
25/04/2019 20h13
A pedido de Jair Bolsonaro, o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, demitiu o diretor de marketing da instituição, Delano Valentim, e tirou do ar uma campanha publicitária com a participação de atores jovens e negros e uma atriz transexual. A propaganda, que estava no ar desde o início deste mês, acabou suspensa no último dia 14, após Bolsonaro se indignar com o filme publicitário de 30 segundos.
A informação foi revelada, nesta quinta (25), por Lauro Jardim, do jornal O Globo.
Organizações da sociedade civil protestaram, uma vez que a decisão vai no sentido contrário à diversidade na representação da população na publicidade – cuidado que, cada vez mais, vem sendo tomado em empresas sediadas em países democráticos. O que, por sua vez, é resultado de décadas de um processo de conscientização, reivindicação e pressão social por parte de minorias.
Além de absurda violência a jovens negros e à população LGBTT para agradar a seus caprichos ideológicos e às crenças do naco reacionário de sua base, a ação de Bolsonaro foi uma interferência em uma empresa de economia mista, ou seja, com acionistas privados e controle estatal.
A veiculação desse comercial atende a estratégias corporativas para trazer grupos jovens à cartela de clientes do Banco do Brasil. Da mesma forma, está alinhado com a decisão de buscar clientes entre grupos historicamente marginalizados ou ignorados. Além de uma ação de responsabilidade social empresarial, esse tipo de política não é caridade, mas traz benefícios econômicos ao setor financeiro. E, pelo contrário, há fundos de investimentos nacionais e internacionais responsáveis que não colocam seus recursos em instituições que agem de forma racista e transfóbica. Ou seja, o presidente da República faz o banco perder dinheiro dessa forma.
Jair Bolsonaro poderia estar dedicando tempo a construir uma política nacional para fomentar a geração de postos de trabalho a fim de reduzir o desemprego, hoje em 13,1 milhões. Poderia estar articulando a Reforma da Previdência em bases melhores do que prometer aos deputados R$ 40 milhões em emendas por voto na proposta. Poderia até estar resolvendo seus problemas familiares que afetam a política nacional.
Mas arranjou tempo para transformar seu preconceito em ação corporativa e, de quebra, interferir nas decisões de mais uma empresa com ações em bolsa.
Sobre o Autor
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.