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Fiador de Bolsonaro, Moro não deve esperar muita solidariedade do chefe

Leonardo Sakamoto

10/06/2019 19h15

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Mais do que ministro, Sérgio Moro foi convidado para ser avalista e fiador do governo Jair Bolsonaro. Sua indicação foi vista como uma blindagem para que denúncias de corrupção contra o governo não colassem tão facilmente. E elas viriam, como vieram, na forma de um Queiroz, em uma Belina marrom 1986, fazendo Turismo, no meio de um frondoso laranjal, plantado entre prédios da Barra da Tijuca.

Uma troca: Moro usaria o cargo para preparar saltos ao Supremo Tribunal Federal ou ao próprio Palácio do Planalto, enquanto seria usado para "lavagem de marca", com Bolsonaro repetindo que a corrupção está sendo mantida longe pelo ex-juiz, que para ele trabalha. Peça-chave da operação Lava Jato, que se tornou conhecido por representar o antipetismo, Moro aceitou o convite parecendo um "jovem universitário recebendo seu diploma", nas palavras do próprio Bolsonaro em novembro do ano passado. A jogada parecia de mestre.

Mas, desde que assumiu, o ex-juiz flexibilizou sua opinião sobre a gravidade do crime de "caixa 2", indo contra o que havia dito antes, ao aceitar o perdão do outrora deputado federal e agora ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, diante de "sincero" arrependimento. E levou vários passa-moleques de Bolsonaro, que tem feito questão de mostrar que a "carta branca" que prometeu a Moro funciona se seguir a sua cartilha.

Na prática, ele não tem a liberdade nem para indicar uma suplente de conselho sem a anuência do chefe e de sua militância nas redes sociais, como foi o caso de Ilona Szabó. E é consultado na última hora em decretos que liberam o bang-bang nas ruas e estradas de terra do país. Nada que gere ruído da pasta da Justiça passa sem o amém do Planalto. O que mostra que Bolsonaro precisa de Moro, mas não o respeita o suficiente.

Agora, as revelações do site Intercept mostram o ex-juiz federal orientando procuradores da operação Lava Jato, o que contraria a premissa de que um magistrado deve ter isenção e distanciamento. Claro que a parcela da população que não se importa com a separação entre acusador e julgador, desde que seus inimigos sejam punidos, não vê problema algum nas conversas trazidas pelas reportagens. Contudo, quem teme pela integridade das instituições está de cabelo em pé.

A depender do que aconteça, incluindo novas revelações trazidas pelo Intercept, condenados podem ser liberados, o que inclui uma lista longa – de Lula a Eduardo Cunha. A culpa por isso não é do mensageiro, ou seja. da imprensa, mas de quem julgou de forma enviesada.

"Moro agora está no árido frio e descampado da política ao invés da casinha quentinha do Judiciário. Está exposto. Antes, tinha a proteção de seus pares. Hoje, não mais." Um graúdo assessor político que conhece bem o Palácio do Planalto comentou com o blog que o Congresso Nacional – que já tinha testado a popularidade do ministro da Justiça e Segurança Pública através dos embates por conta do trâmite de seu pacote anticrime – farejou que Moro está vulnerável. E, da esquerda à direita, passando pelo imenso centrão, há um rosário de nomes que, por discordar de seus métodos ou ter sido alvo deles, vão adorar investigá-lo.

Isso pode afetar a agenda econômica de outro fiador, Paulo Guedes. "Quanto tempo leva para o mercado pressionar por uma saída de Moro caso ele se torne um problema para as reformas?", questiona outro assessor. Apenas o fato de uma pergunta como essa estar sendo formulada, já mostra que o clima em Brasília mudou.

Para além das mensagens de apoio, é difícil imaginar que Jair Bolsonaro saia para bater perna no Congresso para defender Moro. O mais provável é que faça ações protocolares – e se descole dos problemas do ex-juiz. Se ainda fosse pelo fim da cadeirinha para bebês em carros ou pela liberação das armas, talvez se empolgasse em ir. Mas não por alguém de sua própria equipe que conta com mais popularidade que ele.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto