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Leonardo Sakamoto

Desfecho do caso Embraer mostrará que país é este

Leonardo Sakamoto

27/02/2009 19h07

Escrevi, dias atrás, sobre o anúncio da Embraer que demitiria 4 mil empregados. Aliás, minto. Segundo comunicado da empresa, eles não estão sendo demitidos e sim "deixam posições". Como se fossem embora por conta própria.

Hoje, o presidente do Tribunal Regional do Trabalho de Campinas, desembargador Luís Carlos Cândido Martins Sotero, concedeu uma liminar que suspende até o dia 05 as demissões. Respondeu à uma ação em que sindicatos alegaram que a Embraer não se dignou a negociar opções antes da guilhotina. Isso em um cenário em que está capitalizada para enfrentar a crise sem tanto sofrimento aos trabalhadores.

Mesmo sendo uma empresa eminentemente exportadora (e, lá fora, a situação está realmente mais feia), a empresa diminuiu em apenas 10% a previsão de entregas neste ano (de 270 para 242 aeronaves) com uma queda de receita prevista em 13% (de 6,3 para 5,5 bilhões de dólares). A empresa fechou o ano com uma carteira de pedidos firmes de 20,9 bilhões de dólares, tendo entregue 204 aviões em 2008.

Isso tudo com acesso a muito crédito público. Mas o governo federal não teve coragem de se impor e forçar uma mudança de decisão. Ficou para a Justiça do Trabalho defender o trabalhador, de novo.

Uma audiência pública entre a empresa e os Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos está marcada para a próxima quinta às 9h. E a fabricante de aviões já deixou claro que vai recorrer da decisão judicial, defendendo o sagrado direito dos empregados de "deixar posições" quando quiserem. É importante acompanhar, pois o que está em jogo não são "apenas" os 4 mil empregos, mas a forma como empresas, governos e justiça vão encarar o emprego neste período de crise econômica. Colocando o bem estar do trabalhador em primeiro lugar ou tratando de preservar tão somente lucros e a competitividade.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.