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Temer prefere "declarar guerra" a caminhoneiros a aborrecer o mercado

Leonardo Sakamoto

26/05/2018 00h51

Caminhoneiros parados na BR-381, em Minas Gerais. Foto: Alex de Jesus/O Tempo/Agência O Globo

Ao autorizar o uso das Forças Armadas contra caminhoneiros, o governo Michel Temer mostra mais uma vez que prefere enfrentar as consequências e não as causas de um problema. Neste caso, usar o Exército sobre grevistas ao invés de encontrar uma solução para as demandas – não apenas desta categoria, mas das outras que sofrem com a atual política de preços de combustíveis da Petrobras.

Uma parte do governo justifica que o uso de militares para desobstruir vias é necessária após os caminhoneiros não terem cumprido o acordo – acordo que boa parte dos caminhoneiros não reconhece e não deu autorização para que fosse firmado em seu nome. Outra parte parece ignorar as reivindicações dos motoristas autônomos, dizendo que tudo é apenas um locaute de donos de empresas de transporte. Claro que as consequências do desabastecimento são terríveis, mas não adianta encontrar uma solução que  jogue a bomba para baixo do tapete.

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É o mesmo padrão de resposta social adotada diante da crise de segurança pública no Rio. Há um genocídio de jovens negros na periferia. E entre as razões da violência urbana, encontra-se uma política fracassada de guerra às drogas que transforma comunidades em territórios a serem disputados para comércio e armazenamento de entorpecentes. Morrem moradores e traficantes, muitos deles pobres e negros. Morrem policiais, mal remunerados, mal equipados e mal assistidos. Faltam políticas de empregos para jovens, escolas com recursos, hospitais de qualidade, um Estado que se importe com quem é pobre.

Qual foi a solução adotada pelo governo Temer? Entregar a área de segurança pública do Rio para o Exército até o final do ano, afirmando que o general poderia fazer "o que for preciso" no comando. Desde então, moradores de comunidades já foram até fotografados e fichados para poderem deixar sua própria comunidade. Direitos civis? Não, estamos em guerra.

O problema é que mexer com as causas é, em qualquer circunstância, é comprar briga com o mercado, o poder econômico, a velha política. É mexer em estruturas antigas de desigualdade. Coisa que Temer não faz, pois foram eles que o colocaram lá. É mais fácil comprar guerra contra um país. No final, todos vamos pagar a conta através da redução de serviços públicos via corte de impostos.

Em tempo: Não deixa de ser irônico e triste que a muito pequena parcela entre os caminhoneiros que defendia "intervenção militar" tenha conseguindo o que pediu.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto