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Leonardo Sakamoto

Retrospectiva 2009 - Grandes bizarrices do ano

Leonardo Sakamoto

27/12/2009 10h20

Errar é humano. Fazemos besteira a toda a hora e não nos damos conta disso – da mesa de bar às festas de família, elas são perdoadas pelo fato das pessoas à nossa volta se darem conta de que aquilo era, simplesmente, besteira. Mas alguns erros, por sua natureza bizarra, a importância social de seu autor e a certeza de que arrependimento é algo que passou longe de sua cabeça, merecem ser destacados. Melhor, premiados.

Este blog criou há alguns anos o Troféu Frango, o mais tosco prêmio das bizarrices em geral. Listo abaixo, os agraciados de 2009. Graças ao estúdio Pingado, neste ano, o prêmio ganhou ares tecnológicos, substituindo os franguinhos originais, e trilha sonora.

Novamente, divirtam-se (se puderem):

– Por matar nove pessoas nos últimos três anos, recebe o galardão a Entidade Maligna do Metrô, espírito ruim que habita o subterrâneo de São Paulo, verdadeira responsável por todas as tragédias que ocorrem por lá. As pobres empresas construtoras tentam espantá-la, mas seus esforços são em vão. O encosto é mais forte.

– Por ameaçar estuprar um ministro de Estado em praça pública (é isso mesmo que você leu, sem exageros), o governador do Mato Grosso do Sul André Puccinelli foi agraciado. Ele havia ficado irritado com a proibição do plantio de cana-de-açúcar na região de impacto do Pantanal.

– Por insinuar que os trabalhadores são bêbados e precisarem de tutela, Nelson Marquezelli (PTB-SP) foi visitado pelo Frango: "Se você reduzir a carga horária, o que vai fazer o trabalhador? Eles [os defensores da mudança na lei] dizem: vai para casa para ter lazer. Eu digo: vai para o boteco, beber álcool, vai para o jogo. Não vai para casa. Então, você veja bem, aí é que tá o mal: ele gastar o tempo onde ele quiser, se nós podemos deixá-lo produzindo para a sociedade brasileira".

– Pela pressão esquisita sobre o Ministério Público Federal, o deputado federal Abelardo Lupion (DEM-PR) recebeu o prêmio.Durante audiência no Congresso Nacional para discutir o embargo à carne no Pará devido ao desmatamento, ele tentou intimidar o procurador da República Daniel César Avelino: "Dr. Daniel, o senhor é um moço, provavelmente teria um grande futuro pela frente".

– Pelos argumentos usados para justificar um butim na legislação ambiental e rifar o futuro das próximas gerações, a Bancada Ruralista do Congresso Nacional foi escolhida.

– Pela incompreensão da História, o deputado federal Aldo Rebelo (PC do B – SP) levou o troféu ao repudiar publicamente a decisão do STF que garantiu a demarcação contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, dizendo que ela agridia o interesse nacional e projetava incertezas quanto à unidade da nação. Se isso é ser esquerda hoje, para que direita?

– Pelo papel ridículo e desumano, o arcebispo de Olinda e Recife José Cardoso Sobrinho ganhou o prêmio ao excomungar os médicos envolvidos no aborto legal feito por uma menina de nove anos, grávida de gêmeos do padrastro que a estuprava desde os seis anos de idade.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.