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Leonardo Sakamoto

Entidade Maligna é responsável por mortes no metrô

Leonardo Sakamoto

15/12/2009 00h03

Este blog criou há muito tempo o Troféu Frango para premiar bizarrices em geral (veja a lista dos outros premiados no final deste post). Desta vez, o prêmio vai para a "Entidade Maligna do Metrô", espírito ruim que habita o subterrâneo de São Paulo, verdadeira responsável por todas as tragédias que ocorrem por lá e não as empresas contratadas para as obras ou o poder público.

Vamos aos fatos: Um operário morreu, nesta segunda, nas obras de expansão da linha verde do metrô de São Paulo, quando uma barra de metal de quase uma tonelada caiu de um guindaste e o atingiu próximo da futura estação Vila Prudente. A empresa Galvão Engenharia, falou em "fatalidade".

Em janeiro de 2007, sete pessoas morreram após serem engolidas por uma cratera aberta na futura estação Pinheiros da linha amarela do metrô. O consórcio Via Amarela (Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Alston – ufa!) chegou a culpar a natureza, o terreno, as chuvas, rochas gigantes, enfim, as grandes forças do universo pela tragédia.

Em outubro de 2006, um operário morreu soterrado após um túnel de 25 metros de profundidade na futura estação Oscar Freire desabar. Os responsáveis pela obra, na época, negaram-se a dar qualquer justificativa.

Nos últimos três anos, foram pelo menos nove mortos nas obras do metrô paulistano. Durante a campanha eleitoral, chove gente clamando para si a responsabilidade pelas obras. Falta filho para tanto pai. Abusa-se da primeira pessoa do singular. Mas na hora de encontrar responsáveis por óbitos, de discutir obras apressadas ou mal feitas, eles desaparecem como ratos em túnel de trem. O sujeito passa a ser indeterminado. Culpa-se os elementos ocultos e as forças da natureza. Então tá.

Por isso, o Troféu Frango vai para a "Entidade Maligna do Metrô", espírito ruim que habita o subterrâneo de São Paulo, verdadeira responsável por todas as tragédias que ocorrem por lá. As pobres empresas construtoras tentam, de todas as formas, espantar a Entidade para longe, mas seus esforços são em vão. O encosto é mais forte.

Ela se fortalece com filas gigantescas, vagões lotados, uma malha de tamanho ridículo, operários que trabalham no limite e sem a devida segurança. E, é claro, com os polpudos ganhos de construtoras oriundos de governos eleitos, devidamente agradecidos.

Veja quem já foi premiado com o Troféu Frango:

André Puccinelli, governador do Mato Grosso do Sul
Nelson Marquezelli, deputado federal por São Paulo
Abelardo Lupion, deputado federal pelo Paraná
Bancada Ruralista
Aldo Rebelo, deputado federal por São Paulo
José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife
Jarbas Passarinho, coronel e ex-ministro
Jair Bolsonaro, deputado federal pelo Rio de Janeiro
Mangabeira Unger, então ministro dos Assuntos Estratégicos
Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura e Pecuária
Jornal da Globo

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.